quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

Há males que vêm para o bem

Centro Acadêmico de Comunicação

Após o dia 14 de janeiro, o DFTV e o Bom dia DF veicularam seguidas matérias tratando das festas e do consumo de maconha no ambiente da Universidade de Brasília. A gestão do CACOM-UnB, considerou as reportagens, à época, um exercício de jornalismo sensacionalista, autoritário, unilateral e, além de tudo, pouco preocupado com a verdade factual.

Em nenhum momento a equipe do DFTV se prestou a conversar com algum estudante ou diretor dos Centros Acadêmicos para ouvir o que eles tinham a dizer. Não. É mais fácil transpor para a tela da televisão uma versão dos fatos com apenas um lado, e ainda por cima com várias incorreções.

Porém, como reza o dito popular, há males que vêm para o bem. No caso, o grande mal causado à imagem da Universidade e principalmente dos Centros Acadêmicos pelas reportagens do DFTV serviram para reavivar o debate sobre a utilização do espaço físico dos CA’s e também sobre o direito à comunicação no âmbito da universidade. Após as reportagens, surgiram vários espaços para debater esta última questão, desde o debate promovido pelo projeto SOS Imprensa até a audiência ocorrida entre a Secom e os Centros Acadêmicos.

Nós do CACOM estivemos presentes e intervindo em todas essas oportunidades. Esta conjuntura abriu caminho para que a UnB desempenhe, mais uma vez, um papel protagonista, ao avançar em questões que dificilmente são colocadas sequer colocadas no âmbito mais geral da sociedade. A concretização desses avanços se dará pela instituição de um meio Conselho de Leitores, paritário, no âmbito da Secom-UnB, que é o mais relevante meio de difusão de informação acerca do cotidiano da UnB*.

Enquanto estudantes de comunicação, sabemos que há uma série de questões urgentes envolvendo a prática social da comunicação em nosso país. Elas vão desde a concentração da propriedade dos meios, passam pela criminalização recorrente dos movimentos sociais nas diferentes mídias, atingem a questão da desregulamentação e da precarização do trabalho dos comunicadores.

Mais do que outras questões urgentes de nossa sociedade, essas são deliberadamente escamoteadas do público em geral. E o são por que não há nenhum interesse, da parte dos poucos e vastos grupos empresariais que controlam os grandes meios de difusão de informações, em expô-las.

É preciso perceber que todas as questões urgentes de nosso tempo e de nosso país passam pela questão do autoritarismo na distribuição de informações. Exemplificando: no dia 20 de janeiro deste ano, o Tribunal de Justiça de São Paulo (TJ-SP) anulou o processo que corria contra vinte integrantes do MST, acusados de atos de depredação em uma fazenda da empresa Cutrale, no interior de São Paulo, em 2009. A decisão foi tomada com base na falta de consistência  da denúncia, que não obedecia a todos os critérios da lei. A repercussão midiática dessa decisão judicial foi pífia em relação ao espetáculo promovido pela mídia impressa e televisiva de nosso país na ocasião da ocupação da fazenda da Cutrale pelo MST.

Embora o oligopólio empresarial do espectro eletromagnético, utilizado pelas empresas de radiodifusão (TV e Rádio), seja uma questão muito menos tangível que o oligopólio da terra agricultável, é preciso perceber que estas duas situações, geradoras de exclusão social, estão intimamente ligadas. Combater uma é combater a outra.
E o que nós, da universidade, temos a ver com isso?

Em um volume intitulado Testemunho, datando de 1990, Darcy Ribeiro deita algumas linhas sobre sua Universidade. Ele nos conta que a UnB fora estruturada, em seu projeto, de forma que se permitisse “constituir um verdadeiro Campus Universitário onde alunos e professores convivessem numa comunidade efetivamente comunicada tanto pelo co-governo de si mesma, como pela integração dos estudos curriculares com amplos programas de atividades sociais, políticas e culturais”. Darcy sonhou a UnB como o lugar onde a comunidade acadêmica – toda ela: estudantes, professores e trabalhadores – desempenhassem um papel na tomada de decisões. Uma universidade efetivamente autônoma, que teria desempenharia papel crucial na difusão da cultura e do saber em nosso país.

É dentro desta proposta, de construção coletiva, que nós do CACOM iniciamos a discussão sobre a criação do Conselho de Leitores na Secretaria de Comunicação da Universidade.

A UnB, mais uma vez, deve ser protagonista no debate sobre o direito de expressão. Queremos, com o Conselho de Leitores, que se abram as portas desse importante meio de comunicação que é a Secom. Estudantes, servidores e professores, todos devemos ter voz e vez na hora de informar a sociedade e a própria universidade sobre aquilo que acontece por aqui. Democracia começa dentro de casa.

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