segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

Quem tem medo dos estudantes da UnB?

Prof. Frederico Flósculo Pinheiro Barreto
Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da UnB



Mal é finalizado o Segundo Semestre de 2010 (nesta sexta semana de 2011), e uma estranha contabilidade começa a tomar forma na Universidade de Brasília. Nunca, na história dessa Universidade, tantos estudantes estiveram sob processos judiciais, todos advindos de autoridades universitárias, sob os mais diversos pretextos.

Um sólido bloco desses processos criminais tem evidente natureza política e, simultaneamente, acadêmica: são processos movidos por professores que se viram alvo de críticas mais ou menos explícitas (e pode-se dizer que algumas dessas críticas são MAIS que explícitas) dos estudantes, com fundamento em sua profunda, irrecusável insatisfação com relação ao desempenho acadêmico desses professores e professoras. Esses professores alegam danos morais. Mas têm moral para alegar esses danos?

Esse fenômeno – a eclosão sistemática de processos criminais contra alunos que protestam contra o desempenho de professores – merece o melhor exame da Universidade de Brasília, assim como da comunidade de pais e mestres, especialmente aqueles que ainda não foram denunciados pelos alunos como professores com fraco desempenho. Contudo, esse é assunto tabu na Universidade, que prefere ver a Justiça comum resolver aquilo que a própria UnB deveria resolver: algo que envolve diálogo, critérios acadêmicos e administrativos, e o mais honesto desejo de formar uma geração que sempre cobre da Universidade Pública e do Estado, o ensino de qualidade pelo qual todos nós pagamos. Os professores devem aprender a serem cobrados, e a prestar contas de seu trabalho.

Deixo uma coisa clara: estou do lado dos estudantes, nessa guerra judicial. Nossas Universidades Públicas não têm um “PROCON”, e meus colegas professores têm-se mostrado arrogantes, autocratas, ditatoriais, e realmente protegem os colegas menos preparados, menos dispostos e aptos a um trabalho docente bem qualificado. Os melhores professores protegem, por profundas razões corporativas, os piores professores. Quem paga a conta do corporativismo? Os estudantes e, em última instância, a sociedade brasileira.

A onda de processos criminais contra estudantes que protestam contra os maus ou medíocres ou negligentes professores já atingiu uma tal altura, um tal volume, que uma tribuna pública deve ser usada para apelar ao próprio Reitor da UnB: Aja a favor do diálogo, e ouça os estudantes. Eles merecem uma avaliação dos docentes que seja impessoal e efetiva, e que os livrem da dolorosa tarefa do protesto contra as clamorosas deficiências da Universidade. Protestar não é crime, e não atentar para os protestos causa a revolta estudantil - e é mau ensino, lição de péssima qualidade.

Brasília, 7 de fevereiro de 2011.

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