quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

Manifesto do CAFAU pela Liberdade de Expressão na Universidade

"A utopia está lá no horizonte. Me aproximo dois passos, ela se afasta dois passos. Caminho dez passos e o horizonte corre dez passos. Por mais que eu caminhe, jamais alcançarei. Para que serve a utopia? Serve para isso: para que eu não deixe de caminhar".
Eduardo Galeano

“Se as coisas são inatingíveis... ora!
Não é motivo para não querê-las...
Que tristes os caminhos, se não fora
A presença distante das estrelas!”
Mário Quintana

A Universidade se constrói a partir de utopias e caminhada. A UnB foi criada como utopia. Imaginada como espaço de trocas de conhecimento e transformação. Ao longo de seus quase 50 anos, a UnB passou por caminhos tortuosos, obscuros, mas permaneceu de pé, sempre alimentada pela utopia de transformar o Brasil em um país mais justo e igualitário. Hoje vivemos um momento de profundas transformações na Universidade, que por um lado, caminha para uma maior democratização do acesso e requalificação de seus espaços mas por outro lado convive com o câncer da repressão a seus estudantes.
1968: A Faculdade de Arquitetura e Urbanismo foi fechada por estudantes que exigiam melhores condições de ensino. O lema era: “Queremos formação e não formatura”.
2011: Três estudantes da UnB, ex-membros do CAFAU, são processados judicialmente por haverem no ano anterior protestado com a montagem de uma instalação artística, contra a metodologia de ensino adotada em uma disciplina. O lema parece ser: “Vocês vão ter que engolir”.
Este é o primeiro processo movido contra estudantes por realizarem ato político desde a ditadura militar de 1964-1985. É impossível para nós por meio deste documento expressar a profundidade de nossa indignação diante desta atitude arbitrária contra a liberdade de expressão dos estudantes. É uma ofensa aos Direitos Fundamentais garantidos pela Constituição Federal e à comunidade universitária.
É direito de qualquer cidadão apresentar críticas que visem à melhora de um serviço público. Nesse caso a crítica veio com arte, e a resposta dada foi absolutamente desproporcional, visto que além de despropositada na forma, demonstra uma tentativa de dividir o movimento estudantil, processando indivíduos e não o coletivo, representado pelo CAFAU. Consta ainda na lista de absurdos o fato de que as câmeras de segurança da Universidade foram utilizadas para a identificação dos autores da intervenção artística, desvirtuando completamente o sentido do sistema de vigilância. Algo que deveria ser utilizado com a finalidade de proteger os estudantes é utilizado para reprimi-los.
Darcy nos ensinou que “numa Universidade tudo é discutível”, inclusive os mecanismos utilizados para a troca do conhecimento, é papel dos estudantes promover o debate que gere a melhora contínua do ensino, da pesquisa e da extensão. Darcy também ensina que não devemos nos resignar, e nesse sentido, aprendendo com mestre, não vamos nos calar diante das injustiças. Nossa utopia hoje é transformar esta Universidade em um espaço de diálogo franco, onde ninguém seja reprimido por manifestar uma opinião que busque o aperfeiçoamento das coisas, e não pretendemos deixar sequer um dia de caminhar até esse ideal.

Brasília, cidade nascida da utopia, 02 de fevereiro de 2011.
CAFAU

3 comentários:

  1. Camaradas,
    acompanhem mais notícias do movimento estudantil no blog da Oposição Combativa Classista e Independente (CCI) ao DCE UnB:

    WWW.OPOSICAOCCI.BLOGSPOT.COM

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  2. Em 1977 os estudantes da FAU/UnB, levantaram-se em defesa de "liberdades democráticas" (forma velada de dizer "abaixo a ditadura") e pela reconstrução das entidades estudantis então desmanteladas e colocadas na clandestinidade pelo aparato repressor oficial.
    As consequências desses atos foi uma brutal repressão policial e´política, verdadeiro terror que não pode jamais ser admitido.
    Mas pouco tempo depois o regime começou a ceder e ruir, lentamente, mas nos libertamos das trevas e do terrorismo oficial.
    O espaço físico utilizado é o mesmo de hoje onde está o CAFAU e a praça do atelier.
    E estive lá e posso, meninos, com muito orgulho dizer que vi e não fui omisso.
    Os ideais não se perdem, mas estão renovar e evoluir nos ciclos da experiência humana.
    A luta tem que continuar.
    Pace e bene!
    Silvano Pereira, aluno da FAU de 1972 a 1978.

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  3. Silvano,

    Que fantástico isso dos alunos da FAU nunca serem omissos diante das injustiças. Esse exemplo de vocês nos inspira ainda mais a continuar com nossa luta. Me emocionei de verdade aqui. Muito obrigado!

    Octávio Sousa
    Presidente do CAFAU

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